quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Paper cuts


[Para ser lido ao som de Sur Le Fil - Yann Tiersen]

Eu toco o que parece ser meu último soneto enquanto sinto minhas lágrimas desabarem sob as teclas do piano e as tuas caírem sob teu orgulho. As notas ressoam pela casa vazia de esperança e me atingem com cada vez mais força. Eu sinto meu corpo desabar sob o piano, minhas pernas derretendo, eu desintegrando gradativamente. Toco a última nota e sinto o silêncio ecoar e ressaltar todos os nossos vazios. Eu nunca me senti tão pequena apesar de obviamente nunca ter sido mais velha do que sou agora. Eu sei que a quilômetros de distância e a metros de proximidade, tu estás desabrigada exatamente como eu. O tempo só ressalta as falhas e tudo o que não é resolvido, toda a sujeira colocada para baixo do tapete durante anos de repente aparece e não deixa uma – sequer uma – peça limpa. Tudo se acumula e o relógio da cozinha me quebra a cada tic-tac. Eu não era pra estar pensando tanto assim, colocando tanto em perspectiva, tentando ver com tanta clareza um futuro tão absurdamente distante enquanto não consigo nem enfrentar o presente. Nós nos colocamos em meio a um labirinto sem pistas e andamos separadamente procurando saídas distintas – em vão, pois nenhuma achou a saída ou mesmo se encontrou. Olho pra baixo e nem o piano me parece reconfortar agora. Nem isso, nem meus lápis, nem minhas músicas, nem meu violão, nem minhas tintas – porra nenhuma de arte me sustenta agora, só me faz desabar mais e deixar mais explícita minha agonia. Metáforas expressam o que penso mas não da forma necessária – ser subjetiva cansa. De fora parece ridículo, de dentro é deplorável. [The lady whom I feel maternal love for cannot look me in the eyes]. Eu não sei lidar, só sei tocar essa merda de música. Eu não sei me expressar, só sei silenciar e observar. Quando a hipótese do explícito e real parece tão assustadora, nos afogamos em metáforas e poréns. Em meio ao silêncio e sentindo uma lágrima morna lavar meu rosto, fecho os olhos tentando fugir de todas essas hipocrisias e verdades implícitas que criamos, querendo te dizer apenas uma coisa.

Desculpa.

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