quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Olhares desconhecidos e coisas pequenas que nos marcam.

Você já parou pra pensar que uma tampa de latinha pode ser mais importante que um anel?

Eu gosto de pequenas impressões. Eu gosto de olhares magnéticos, de meios-sorrisos, de sorrisos sinceros, sorrisos que provocam algo. Eu gosto de gente que vale a pena ser lembrada.

Preocupamos-nos tanto em sermos pessoas boas, pessoas de ética, de moral, e toda aquela coisa estilo aula de filosofia da sétima série. Por que ninguém fala das pequenas coisas? Por que ninguém fala da empatia que se tem com algumas pessoas e do ódio gratuito por outras? Por que ninguém fala sobre dar bom dia ao vizinho?

Deixe-me explicar melhor.

Sabe quando você anda de ônibus e vê alguém que lhe parece familiar? Talvez familiar não seja a palavra mais propícia, mas falo simplesmente de alguém com quem você compartilharia sua música preferida, alguém com quem você conversaria sobre um livro, alguém em quem você daria um abraço sem fazer parte do protocolo. Você não precisa saber o nome da pessoa, nem a história dela, quanto ela pesa ou mesmo quais (e quantos) ideais ela tem. Você só gosta dela. Vocês trocam olhares e sequer um sorriso é necessário, há um magnetismo entre vocês dois que é capaz de deixar o seu dia (que poderia estar sendo uma bela merda até o momento) melhor. Você vai chegar ao seu destino e, depois que seu ônibus parar no ponto, você vai sair de lá e nunca mais verá aquela pessoa - o que, por incrível que pareça, não vem ao caso, porque o que importa é que foi bom enquanto durou.

Você me compreende?

É uma questão de sintonia. Eu gosto como a menina da minha escola me olha com atenção enquanto falo com ela; eu odeio o modo antipático e forçado que a secretária da minha psicóloga usa para falar com os pacientes; eu adoro o modo como o professor de história parece superior a todos sem olhar com desprezo para ninguém; eu odeio o modo como minha professora de arte olha meus desenhos de forma simplória e fria; eu aprecio muito a maneira com a qual o porteiro do meu prédio pergunta se eu estou bem. Eu não amo ou odeio nenhuma dessas pessoas, mas tenho esses sentimentos em relação ao modo como elas reagem ao próprio cotidiano.

Durante toda sua vida, você vai passar por cinquenta, cem, duzentas, trezentas pessoas: e só vai se lembrar convictamente de, no máximo, vinte. Essas vinte não precisam ter te feito algo de maravilhoso, ter te dado um grande presente, um beijo memorável ou um abraço muito forte. Basta um olhar terno, uma conversa interessada, um aperto de mão, um sorriso fora de hora. Por que ninguém se preocupa com isso?


Um presente nem sempre agrada por quanto ele custa, mas sim pelo quanto o remetente vale. Eu posso ganhar um refrigerante daquele guri pelo qual eu tenho simpatia e sentir meu dia ficando melhor por isso, ao mesmo tempo que posso ganhar um brinco de ouro da dinda que eu não gosto e simplesmente ignorar o ocorrido.

As pessoas preocupam-se muito em agradar a todos, mas de forma simplória. Você dá bom dia aos seus vizinhos? Sorri para o porteiro? Diz obrigada à moça do caixa? Você pensa em alguém com a mesma preocupação que usa para pensar em si mesmo?

A questão é que você não precisa dar um diamante a ninguém para ser lembrado. Você só precisa ser menos egoísta e parar de ignorar tudo o que não tem um valor financeiro, olhar para as coisas banais com mais carinho. Quando for falar com alguém, não perca a chance de ser diferente. Ser só mais um tijolo cinzento na parede é tão entediante quanto passar um dia inteiro sem ouvir uma música. Seja lembrado por coisas bobas. Lembre das pessoas pelo o que realmente importa. Pense no que realmente importa. Todos nós somos fracos, sensíveis e dependentes: é simples marcar alguém, mais simples do que parece. Qualquer coisa, por mais pequena que seja, pode mudar nosso dia, nossa semana, nosso mês, nosso qualquer-coisa.

Aliás, tem uma menina na minha cidade. Uma vez ela sorriu pra mim, eu nunca mais esqueci do rosto dela. Não sei quem é, mas eu gosto dela. Os olhos dela são castanhos. E magnéticos.

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso, concordo com absolutamente tudo. Fico impressionada com a sua facilidade pra expressar tudo que eu penso! Hahahah.

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