Eu quero ir num bar, fazer um amigo, te ver de longe, matar a
saudade do que sobrou. Ouvir o cara ali do canto tocando um blues no meio de
tanto barulho, ver um casal dançando, um brigando, dois se beijando e nenhum se
resolvendo. Beber um vinho e brindar o nosso fracasso. Reviver tudo o que foi
deixado pra trás, vestir o figurino e ser todos os personagens que eu já pensei
em interpretar, ter todas as idades que eu já pensei em ter. Tirar umas
máscaras do armário e outras do rosto. Conversar contigo e te ouvir escorregar
nas palavras por ter bebido mais que o recomendado. Você é engraçado, eu digo.
O quê? Engraçado, você, eu repito. Você dá de ombros e segue falando suas
filosofias de botequim. Eu escrevo um verso aleatório no guardanapo que tinha
sido esquecido por ali perto e o guardo no bolso. Amanhã de manhã as palavras
não vão ter sentido, talvez no máximo tenham significado. Ou nem isso. Amanhã
já foi, já era, ficou pra trás, pra depois. Mas a satisfação ainda está
estampada no rosto, preenchendo os vazios criados pelo tempo.
São quase meia-noite
quando eu sorrio pra ti e vejo tudo se apagar - e, às nove horas, eu já não sei
de mais nada.
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