Suspira. Com as costas curvadas pra frente, descrava os cotovelos das pernas e passa as mãos pelos cabelos. "Merda", pensa.
Tempos que não se sentia tão infantil. Tudo estava a sobrecarregando. As pessoas, o trabalho, a faculdade. Até o barulho dos carros que interrompiam o silêncio que tanto prezava. Tudo isso era digno de risos, tamanho o ridículo.
O rosto começa a tomar uma expressão de choro, as sobrancelhas começam a se curvar, a boca a se comprimir. Se atira de costas na cama, e vai escorregando, até cair sentada no chão. E sentada no chão, chorou. Chorou como não chorava há meses. Ou semanas. Ou sei lá. Não se lembrava de ter chorando tanto assim recentemente. O tempo passava rápido demais. Não tinha tempo para chiliques-de-adolescente-em-crise-existencial. Mas isso não era chilique. Quer dizer. Ela vinha guardando a porra daquele choro fazia muito tempo. Doía. Tudo estava errado. Tudo. Não era por causa de uma briga de namoradinho ou algo do tipo. Era família. Amizade. Insatisfação consigo mesma. Ela nunca foi a senhorita oh-como-sou-linda. Mas já tinha passado dos limites. Não conseguia achar merda de qualidade nenhuma em si mesma.
E de que adiantava todo aquele trabalho? Amanhã ou depois ela morre e ninguém se lembra. Digo. Alguns se importariam. Mas ninguém deixaria de viver por isso.
Ela morre, e a vida segue. O mundo continua girando, as pessoas continuam respirando, nada muda.
As lágrimas rolam sem parar. Soluça, quase se engasga. Sentimento tão forte que chega a ser difícil de expressar. Quanto mais chora, mais lembra de motivos para não parar. Alterna minutos de silêncio e gritos. Fecha os punhos com tanta força que sente as unhas cravando na palma da mão. Talvez pensasse que a dor nas mãos fosse dispersar a dor do choro. Tsc. Muda de posição, encosta as cochas na barriga e abraça as pernas. Enfia o rosto nos joelhos e encharca as calças de lágrimas. Tão pequena. Tão insignificante. Frágil. Odiava se sentir assim. Por mais patética que se achasse, ainda tinha algum resquício de orgulho.
Um longo suspiro.
Atira a cabeça pra trás, recostando-a na cama. Pára de chorar aos poucos. Fica olhando para o teto por um tempo, descansando. Acho.
Sente o sangue pulsar não sente? As mãos e a respiração quente. A cabeça latejando.
Não é porque o choro parou que a dor cessou também. As coisas sempre acabam dando um jeito de piorar. Não se pode chorar assim todo dia. É conter os sentimentos ou passar por ridícula. Dá pra fingir que existem algum tipo de poço ou algo do gênero, e que deixamos todas lágrimas lá. Mas uma hora elas acabam saindo. Como já diz Pitty,
"Toda mágoa velada é água parada e uma hora transborda".
Mas, de qualquer forma. As lágrimas vão acabar voltando.
O poço vai ter que aumentar.
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