terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sobre a velinha a mais e a coleção de realidades.

          Eu sei que é clichê falar sobre datas "especiais", mas é tão clichê, tão prevenível, tão normal, que eu não resisti. Faz quase 10 dias que eu fiz aniversário, e é difícil não parar pra pensar um pouco nisso, nem que seja durante um café rápido da manhã ou um preguiçoso da tarde. Sabe...

          Parei pra pensar no ano passado. Nossa, eu era muito diferente - e, em grande parte, pra pior.

          A gente cresce e se depara com aquela pseudo-filosofia de botequim, todo aquele sentimentalismo recoberto por uma capa de realismo, mas daquelas capas bem finas que não precisa de muito pra ultrapassar, daquelas que só precisa de uns dois, três, quatro minutos de reflexão, ou melhor, pseudo-reflexão, pra combinar com todas essas metades e pseudos e indefinidos que nos rodeiam.

         A gente cresce e ri quando olha pro passado por notar o quão idiotas éramos, mas ri com uma pontada de saudade por saber que aquela idiotice mantinha um sorriso no rosto e uma piada sem maldade na ponta da língua, ri mas sabe que nunca vai voltar a ter aquele tipo de pensamento tolo, ri mas com uma certa inveja de si mesmo: inveja da ex-idiotice que agora tornou-se uma estupidez sem cabimento e sem tantas piadas.

          A gente cresce e passa a ver as coisas de uma forma menos doce e mais crítica, mas também de uma forma mais clara, sabe?, quer dizer, parece que uma névoa de dúvidas que recobria os olhos agora vai esvaecendo, talvez não por completo, mas aos poucos, cada vez mais, até que não haja mais nada e que vejamos toda a verdade nua e crua de cara, sem ilusões e fantasias, mas isso só numa idade muito avançada e já te digo: dói, dói muito, porque toda neblina de dúvidas sempre acaba por nos proteger: a ignorância, amor: a ignorância é uma bela de uma protetora.

          A gente cresce e fica mais duro e inalcançável, criamos muros de proteção que mais tarde acabam sendo derrubados por aquela carência natural de qualquer ser humano, caindo por cima de nós mesmos e ferindo aquilo que gostamos de chamar de orgulho. Muros são péssimos, amor, acredite. Guarde os tijolos para construir uma casa, não para um muro.

          A gente cresce e já acha que sabe de tudo - risos. Nunca sabemos de tudo e nunca chegamos perto disso, apenas nos achamos muito evoluídos pela comparação do que éramos num passado de menor acumulação de decepções e realidades. Com o tempo, podemos piorar nosso caráter e tornarmos-nos pessoas mais podres, mas a experiência e aquele tino de auto-proteção nunca regride com os dias riscados e meses folhados no calendário.

          O fato é que ninguém cresce de um dia para o outro, mas, quando fazemos aniversário e vemos as velinhas sendo apagadas, as pessoas aplaudindo, os "parabéns" (verdadeiros e cínicos), as felicitações; aí sim que dá aquele estalo e notamos que tudo muda de proporção - até o tamanho das calças e o número que é indicado na balança. Ano passado eu era algo inferior em comparação ao meu agora, e me sinto até feliz com isso. É um tanto quanto egocêntrico escrever algo desse tamanho sobre uma passagem de idade (que, cá entre nós, não é algo tão grandioso assim), mas só gostaria de assimilar tudo melhor e deixar claro que espero poder, no ano que vem, olhar pra trás e dizer aos risos: como eu era idiota.

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