Fim de tarde de quinta feira e tu me apareces com uma ceva e dois copos. Senta aí.
O fim de tarde tá bonito e colorido, é bom de ficar olhando ele contigo. As coisas costumam ser melhores contigo quando não há aquela habitual turbulência das brigas sem sentido e motivo. Em relances, olho pro teu rosto. Parece melhor que antes, mais sadio, menos perturbado. Estranho tu apareceres agora, digo. Estranho não teres ficado mais feliz com isso, me respondes. Eu nem sei, guri. Não sei se é felicidade, surpresa, estranheza ou esquisitice. Nós somos estranhos, não poderia ser diferente. Pelo menos não pensamos que poderia.
Eu nem sei bem mais o que realmente aconteceu. Ficamos esperando o tempo passar, por algum motivo que há de ser subconsciente, já que não consigo nele ver sentido. Foi indo, e nós não fomos juntos. Ou fomos tão juntos que nos separamos. Pra te falar a verdade, eu não me lembro quando nos separamos. Ou mesmo se o fizemos. As coisas passaram de uma forma estranhamente indiferente, e acho que isso me perturbou um pouco. Me serve mais uma, te digo enquanto estendo o copo.
Eu nem sei porque estás aqui agora. Foste chegando como quem não quer nada e, quando vimos, já estávamos aqui. Ou lá. Na minha cabeça tá tocando Vera Loca, como trilha sonora d'um filme que nem lançado foi. Porque "as coisas que eu te disse hoje só valem até o meio-dia". Um impulso involuntário por crescer vai se alastrando entre a gente, e simplesmente não dá pra evitar. Mas ainda não estamos prontos, nada está. Tudo o que almejamos está fora do alcance, como um show d'uma banda cujo vocalista está morto. Mas um show do Nirvana seria tri de ir contigo.
Nossa relação (ou o que deveria se-la) é (ou foi?) feita de pedaços soltos. Nada é realmente entrelaçado, e eu sinceramente não sei dizer se isso é um problema ou uma solução. Às vezes um problema pode estar dentro da solução. Ou vice-e-versa. Mas sabe, não importa muito. Estávamos tontos demais (de cerveja, de dúvidas, de inexperiência ou seja o que for) para diferenciar problemas de soluções, verdades de mentiras, eu de ti. De vez em quando estar tonto pode ser uma boa. Mas e dessa vez, foi?
Eu sei lá. Tu também nem sabes lá. Agora estamos ocupados ficando cada vez mais tontos. É uma questão de tempo até a colisão, mas ainda não é hora de pensar nisso. Talvez até fosse, mas somos jovens. Ou pensamos que somos. Não me interessa se os laços mal existiam mais. É bom te ter aqui. Mesmo falando poucas coisas. O silêncio cortado pela música do rádio acompanhado de ti e uma bebida é uma boa. Melhor que uma tarde sozinha. O rádio toca bem baixo lá dentro e deixa tudo com uma cara meio idiota e clichê, mas não importa, porque tá tudo extremamente confortável e, mesmo que eu não saiba ou soubesse, tudo como eu sempre quis.
Talvez um dos nossos problemas tenha sido o fato de que deixamos a saudade se alimentar sem que notássemos. Havia aquele vazio da tarde de terça-feira, mas não notava-se o motivo aparente. Até porque a saudade é sobrestimada. Saudade não é algo tão inalcançável, tão difícil, tão seletivo. Não é coisa de adulto, é coisa de gente. E quando não matamos a saudade, ela faz o favor de matar a nós. Meio que como aquela coisa de sobrevivência na selva. Só que sem, you know, a selva.
Então, me serve mais uma aí e me conta, como tens andado?, te digo. Ouço tua resposta atentamente, mas sem demonstrar tal interesse. É melhor assim. Ou talvez eu só pense que seja.
Tava com saudades, guri.
Mais um lindo texto. Já disse que amo teus textos, né? Esse aí é leve de ser ler, não é tão... rebuscado como alguns. Mas não foge do teu "estilo". Também gostei muito do plot e tal.
ResponderExcluirParabéns, fp.