Eu sempre gostei de saber. Sempre pensei que se as coisas existem, devem ser conhecidas, descobertas, estudadas, interpretadas e tudo isso mais. Mas passei a pensar (ou agir) diferente.
Eu gosto, sempre gostei e não pretendo parar de gostar de ler. Ler livros sobre ciências, contos, ficção, matemática, qualquer coisa que me abra a mente. Mas sinto que minha mente abriu-se demais e as ideias me escaparam. Se é que me entende.
Sou tomada por medos, por arrepios, choros, indecisões, risadas, imbecilidades, clichês e mais um turbilhão de coisas, mas todas passam a ter menos valor - mesmo que talvez nunca tivessem tido algum - a partir do momento que eu sei que tudo é uma fase. São os hormônios (ou a falta deles); a idade, coisa de criança, de adolescente, de adulto, de velho, de o que quer que seja.
Mas não sei.
Pois e se não soubesse que não sei? Provavelmente fosse mais fácil não saber que tudo não passa de alguns hormônios desnorteados e a vontade de passar algo aos outros, que tudo não passa de egocentrismo e medo do tempo que passa e para a todo momento sem que eu possa controla-lo por completo. Tudo o que eu penso se estende num loop infinito que por vezes (quase) empaca em uma ideia apenas; mas logo segue indo perdido e tonto para algum lugar que eu penso que sei qual e como é.
Sinto que estou dando um nó em meu próprio (projeto de) pensamento.
Esse paradoxo se repete e me irrita cada vez mais com o passar do tempo. É um loop que corre desenfreado e que eu não consigo nortear de jeito algum - e, ironicamente, me parece que quanto mais tento pôr sentido e direção no mesmo, mais faço o contrário ser verdadeiro. Tanta ironia parece conspirar contra mim, mas noto que essa tal ironia tem a mim como dona, o que a torna mais irônica e sádica (mais masoquista do que sádica, na verdade).
Eu me confundo.
Só que tudo o que era pra fazer sentido acaba deixando de fazer. O sentido cai por cima de si próprio. E de repente ele me parece tão fraco e inútil como um brinquedo de camelô quebrado por uma criança das mãos pesadas.
Me sinto mal com o sentido quebrado. Mas talvez ele fosse (e seja) apenas um brinquedo vagabundo do qual eu usava e pensava ter muito valor. Talvez eu fosse (e seja) uma criança das mãos e pensamentos pesados demais para qualquer brinquedo. Talvez eu não saiba brincar. Ou tenha cansado de faze-lo. Ou mesmo nunca o tenha feito de verdade.
Vou montando ideias aos poucos e elas entrelaçam-se umas às outras de tal maneira que me parece mágico ou impossível, pra ser sincera. Mas com o tempo as ideias se materializam e perdem qualquer sentido/brinquedo, graça, ternura, e qualquer outra daquelas coisas aleatórias. As coisas que penso, escrevo, falo, ou mesmo faço, só me parecem interessantes de se brincar enquanto estão frescas em minha memória; enquanto os dedos teclam e/ou escrevem incansavelmente jorrando palavras que me vem sozinhas a mente.
Os "talvez" me cercam em maior número do que as certezas e os brinquedos, e isso me assusta extremamente. Eu só quero brincar em paz no meu mundo de idiotices e superficialidades, só quero viver do meu egocentrismo e da minha mania de superioridade, só quero ser medíocre como todas as outras pessoas devem ser, em meu mundo fechado que de vez em quando abre-se para mostrar ao outros um pouco de sua insanidade que acaba por parecer totalmente sã para mim. Minha cabeça lateja e eu olho para o teto esperando ver qualquer solução.
Mas quem liga para os talvez, para os brinquedos, para as insanidades e para a coerência além de mim?
Ninguém.
Ninguém, porque eu sou apenas a metade de um grão de arroz numa panela gigantesca (mesmo que essa comparação seja extremamente ignorante). Eu não devo fazer nada além do que me digam para fazer. Se eu fizer, estarei sendo anormal, e o hospício mais próximo é capaz de interessar-se em mim. Então ser normal é bem mais fácil. E medíocre, mais ainda.
É mais fácil se eu sentar na varanda e ler uma comédia romântica comendo umas pipocas com um mate doce. É mais fácil eu olhar pra cima e pensar "como o céu está bonito hoje" - até porque realmente está. Às vezes me dói querer ser (ou até conseguir ser) simples. Apenas comer, dormir, cumprir as metas e dar umas risadas. Eu sempre quero mais. Escrever me dá - literalmente - um nó no pensamento e nos princípios, mas eu não consigo viver com as cordas desamarradas. Eu preciso me prender a algo e, aparentemente, adquiri a mania de prender-me à ideias absurdas. Mas eu sinto que isso não faz bem pra mim, sinceramente. Não faz sentido querer fazer sentido. Eu estou escrevendo isso e formando vários nós, e o mais estranho é que sinto-me culpada e ao mesmo tempo aliviada - como quando comemos um bombom durante uma daquelas dietas de gordas desesperadas. Minha mente já encheu-se e esvaziou-se ao mesmo tempo, mesmo que eu não tenha entendido bulhufas. Mas eu não preciso exatamente entender, apenas pensar que o fiz. Só preciso achar que entendi. Só achar. Nisso, noto que tudo é feito de ilusões momentâneas e que tudo gira em torno do próprio conforto, em todos os sentidos. Às vezes é preciso parar de pensar - mesmo que por descuido - e olhar para o céu. Aliás, ele está lindo hoje.
Agora peço licença, pois estou dirigindo-me à varanda mais próxima.
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