sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O M. e o tempo

Minhas dores são pequenas e acumuladas em todos os dias de sorriso-de-propaganda-de-creme-dental, para que se juntem em um grande monstro que, mais tarde, irá devora-me por inteiro, deixando apenas as lágrimas restando. O mesmo esconde-se nos cantos escuros de meu quarto, ou até mesmo de minha mente, não posso constatar com absoluta certeza. Ele cresce cada vez mais, sorrateiro que só não o noto, Demonstra-se (o monstro) por meio de minhas irritações sem motivo no meio da tarde; nos socos que dou na cama antes de deitar-me; nas lágrimas que acariciam e caminham por meu rosto durante o banho, tão brandas que chegam a misturar-se à água do chuveiro e a passar despercebidas. Não sei se noto as mudanças e, por subconsciente desejo de manter-me calma e supostamente feliz, acabo as ignorando, ou se realmente sou cega o suficiente para conseguir ver M (decidi apelidar o monstro assim) apenas quando já está a frente de meus olhos e alma, devorando-me com a boca aberta o suficiente para que eu possa ver, dentro dela, todos os meus erros e falhas que – pasme – também passaram despercebidos. “Tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos... O tempo não para”, ouço Cazuza cantar-me nos ouvidos enquanto M suga meu sorriso. As pessoas estão fugindo aos poucos, mas estão. Seus “adeus” são sorrateiros como M, e chega um dia em que elas já dão-se por despedidas, e vão-se. E eu aqui, pasma, babaca, boquiaberta; apenas observo. Muda. Muda, mórbida, morta – vês por que temo o M? De qualquer forma, com ou sem M, as pessoas sussurram seus “adeus” baixo demais para que meu coração possa ouvir e tentar, fraco, impedir. Mas já era. O CD já parou de rodar no toca discos e eu ainda não me dei conta de que a 3ª música já acabou. Quer dizer, ainda ouço-a claramente... Tem certeza, amor? Tem certeza de que a 3ª música já passou?, e a 4ª, 5ª, 6ª, até a 11ª?, já acabaram mesmo? Meu doce, é sério que o CD já não roda mais? Sim... É sério. E vês que ironia Maldita (com M), fostes tu mesma quem desligou o rádio. Preocupada demais em amaciar teu ego, resolvestes pausar um pouco a música para que pudesses ouvir melhor a si mesma, mas – veja que deslize! –, por descuido, teu dedo escapou e pousou direto no botão de desligar... Nem te desses por conta, correto? Não olhastes bem, e – oras... – se a música havia parado, era visível que estava apenas pausada. Quando – depois de um bom tempo – resolvestes coloca-la a tocar de novo, já não sabias mais a letra ou a melodia, e o tempo já havia se encarregado de estragar o rádio para que não pudesses relembrar. Pois é, amor. Nós paramos, mas o tempo não para (não é, Cazuza?). E se não o acompanhamos, ele toma as decisões por nós, faz as coisas acontecerem. Sozinhas. Sem teu consentimento. E, ah querida, em comparação ao tempo, és Minúscula. É inútil tentar mudar o que não podes entender. O tempo, confuso e complicado que só, nos faz viver do mesmo modo que nos vai arrancando a vida. E o tempo, de um modo geral, nunca acaba. O nosso tempo acaba. Nós acabamos. E o tempo tratou de acabar pra ti, tesouro. Tu te tornaste o (teu próprio) Monstro. E agora, encontras-te Minúscula, Miserável, Moribunda, Mortiça, Macabra, Massacrada, Medíocre, Mórbida, Menosprezada. Morta. M.

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