terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Decadência de Sofia

Ela corria desesperada, sem rumo, sem sentido, pela floresta escura. Mais decadente do que nunca, Sofia que sempre fora tão limpa e delicada, encontrava-se descabelada, vestido branco rasgado, pele clara arranhada, rosto sujo – de terra e de lágrimas. As unhas roídas, resultado de tamanho desespero. Sobrancelhas naturalmente finas arqueadas. Eu apenas a observava. Tão decadentemente linda. Mesmo depois de tudo aquilo, continuava garota delicada e fogosa ao mesmo tempo, da pele de porcelana, dos olhos de boneca, da boca entreaberta mostrando apenas parte de seu íntimo segredo, deixando a todos perplexos e curiosos. Na floresta preta e branca, Sofia era cor, era flor. Era o único brilho, um resquício de esperança esquecido no fundo da xícara tomada pela angústia. Encantava a todos, mas desencantava a si mesma. Não sabia o que fazer com aquela situação, não sabia sequer direito a situação em que se encontrava. Sofia, que sempre fora bailarina de primeira classe, oprimiu-se em seu medo, e deixou de dançar. Uma pena, dançava como ninguém. Cintura fina que o laço de seda contornava, ia estendendo-se até deparar-se com uma saia branca e armada que escondia suas curvas. Traçava com os braços caminhos indecifráveis pelo ar, as mãos delimitavam linhas imaginárias com os dedos finos. Bailava incansavelmente, com fúria tão grande que chegava a ser frágil, amável. Ela tinha alguma coisa. Alguma coisa diferente de todos. Os olhos dela, a pele, a expressão, a voz macia... Não sei ao certo o que, mas algo fazia de Sofia a mais bela flor. Porém deixara de bailar. Agora, perdida que só e mais fora do ritmo do que nunca, corria desesperada. Tropeçou no próprio orgulho e afundou na própria dor.

Mas ela não sabia nadar.

Eu observava. Observava, calada, de meu refúgio. Observava Sofia afundar, gritar, clamar por ajuda. Mas eu não podia ajuda-la. Ninguém podia. Quando alguém afunda-se em si mesmo, não há ninguém que possa o salvar além de si próprio. E Sofia não sabia como se salvar.

Afundou; cessou.

Espero pelo dia em que verei Sofia novamente furiosamente bela, incandescente em seu próprio brilho, leve como pluma, passando pela rua de minha casa, cantarolando, bailando, encantando. Desencantando.

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