Hoje a noite tá tão boa. É verão, e a gente tem aquele calor mesclado com os calafrios gerados pelo sereno, os pelos da nuca arrepiados e tudo mais. O céu está limpo, as estrelas totalmente visíveis, e és tu que me mostras isso quando comentas sobre, porque, sinceramente, eu não tava prestando muita atenção.
A gente conversa sobre umas bobagens quaisquer, enquanto ouvimos meu The Dark Side of The Moon tocar lá longe. Não existe muita iluminação além da lua, o que é bom, porque assim não gastamos tempo nos apegando a detalhes e defeitos idiotas. Tu me passas o chimarrão novamente cheio e, enquanto eu o pego com cuidado para não derruba-lo, fico pensando o quanto eu acharia estranho tomar mate de noite se não fosse contigo. Mas, sabe como é que é, tanto faz.
Te ter aqui pra me ouvir é a melhor coisa do mundo - pelo menos agora. Já faz um tempo que nós viemos construindo isso, e toda aquela cerimônia e desvio de olhares não existe mais. Estou a poucos centímetros - nada muito além de um metro - de ti, mas nunca é perto demais. Eu falo contigo olhando no teu olho, tudo parece tão sincero, natural. Não me lembro da última vez que alguém me olhou do jeito que tu o fazes. E talvez nem haja nada no passado que eu possa me lembrar; não agora.
Eu canto Us And Them junto com o CD, tu dás risada da minha cara, eu te bato, aquela coisa toda. Rimos juntos, e a cada vez que paramos, estamos mais perto um do outro. Meu medo de te perder cresce cada vez mais, mas eu tento não pensar nisso enquanto estou com a cabeça recostada no teu ombro. O tempo se arrasta, a gente no chão, tua cabeça no meu colo, eu mexendo no teu cabelo. Eu não posso ser realista. Minhas paranoias não podem ser reais. A gente não pode ir embora.
De repente, tu sentas e ficas me olhando de perto por um tempo. "Tu é mais importante do que pensa" é o que te ouço falar com os olhos meios confusos e um semi-sorriso no rosto. Tá tocando Brain Damage, e eu só penso que isso não poderia estar sendo melhor. "Tu também", me obrigo a responder. Sorris e levantas, pegas o teu casaco e me dizes que precisas ir embora. Fico tão atônita que abro a boca e as palavras não saem, embora eu esteja berrando por dentro. "Desculpa", e beijas minha testa. Eu te vejo ir embora e reluto pra tentar te deter, mas alguma força parece pregar meus pés do chão, como vindo do centro da Terra ou algo assim.
Eu quero chorar, mas não consigo. Foi tudo rápido demais, sem motivos e sem razão. Tu vais embora, mas tua presença parece estar implícita em todos os lugares, como se para me perturbar. Talvez fosse pra ser assim. Enquanto eu sinto o tempo ir esfriando cada vez mais, tudo o que eu ouço é o Waters cantando "I'll see you on the dark side of the moon".
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