Nascem raízes dentro de mim
Prendem-me, fazem-me crescer
Delas, ousam nascer algumas flores.
Crisântemos, normalmente
Porque crisântemo é flor da morte
E de nada seria a vida sem o morrer
Logo, viro eu flor por inteiro
Um crisântemo, uma rosa
O que for
O que tiver de ser.
As libélulas e borboletas pousam em minhas flores internas
Sinto elas em meu estômago
Ora fazem-me cócegas reconfortantes
Ora fazem-me querer vomitar
Não faz diferença, de qualquer modo
Já que eu sou reconforto, sou vômito.
Viro então larva
Encasulo-me, longe de tudo
Perto de mim.
Renasço borboleta
E voo.
Pouso na primeira flor que me cativar
Roubo-lhe um pouco de néctar
E voo inda mais um pouco...
Minhas asas cansam
Uma criança me caça
“Que bela borboleta!”, exclama
E arranca minhas asas.
Morro, definho.
Minh ‘alma espalha-se pelos canteiros floridos
Viro então rosa
Enraízo-me.
Crio belas pétalas e aromas agradáveis
Seduzo o primeiro sonhador a passar
“Que bela rosa”, ouço-o exclamar
Mas não dessa vez.
Ele tenta me arrancar, mas meus espinhos cravam suas mãos ladras
Sangra.
Minhas pétalas sorriem... Ainda estou viva!
Os dias passam, e continuo enraizada.
Pousa-me uma borboleta
“Que bela borboleta!”, penso eu. Não me incomodo que pegue um pouco de meu néctar...
Não me dou por conta, e meus espinhos cravam sua asa direita
A asa é arrancada
A borboleta cai
Definhou; como eu.
Meu néctar jorra de minhas pétalas num choro florido
Que o que tem de bonito
Tem de doloroso.
Meu néctar, agora, não é capaz de reavivar a borboleta da asa arrancada
Apenas adoça-a...
Para tornar sua partida um pouco mais suave, quiçá.
Deixei todo meu néctar escorrer
Encontro-me amarga.
Nenhum sonhador quer me arrancar
Nenhuma borboleta quer do meu néctar provar.
Despedaço.
Não por algum apaixonado que usou minhas pétalas para cantarolar o bem-me-quer
Despedaço por mim mesma
Aos poucos
A luz vai indo embora, o som vai se abafando
Cada vez mais
E vai.
Viro então libélula
Não tenho asas bonitas nem espinhos
Sou livre, apenas.
Voo para longe
Pouso num lago
Vivo.
Até que vejo algo quadriculado
Uma rede?
Me pescaram novamente.
Enquadraram-me
E agora posso apenas viver por detrás do vidro
Sem voar
Sem espetar
Sem.
Eu vou morrendo aos poucos a cada olhar admirado que pousa sobre mim
Vou morrendo
Esvaecendo
Morro.
Então minh ‘alma liberta-se
Passa pelo vidro
Pelo ar
Por tudo, até por mim.
Meu corpo está a salvo
Minha figura está congelada
E minha alma libertou-se enfim.
Perambula, agora, por outros jardins
Não tenho mais forma específica
Sou tudo.
Sou flor que encanta e finca
Sou borboleta que voa e beija as flores procurando por pólen
Sou libélula livre que passa pela água num voo de esplendor
Sou o jardim inteiro que toca almas sem que elas se deem conta.
Enraízo-me, enfim, na vida.
Sem destino certo
No meu processo de floridez, finalmente encontro a forma utópica do nada
Apenas do sentir.
Depois de arrancarem-me as asas que aprendo a voar
Rego, então, as flores de dentro.
Finalmente;
Floresço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário