domingo, 11 de dezembro de 2011

Processo de floridez

Nascem raízes dentro de mim

Prendem-me, fazem-me crescer

Delas, ousam nascer algumas flores.

Crisântemos, normalmente

Porque crisântemo é flor da morte

E de nada seria a vida sem o morrer

Logo, viro eu flor por inteiro

Um crisântemo, uma rosa

O que for

O que tiver de ser.


As libélulas e borboletas pousam em minhas flores internas

Sinto elas em meu estômago

Ora fazem-me cócegas reconfortantes

Ora fazem-me querer vomitar

Não faz diferença, de qualquer modo

Já que eu sou reconforto, sou vômito.


Viro então larva

Encasulo-me, longe de tudo

Perto de mim.

Renasço borboleta

E voo.


Pouso na primeira flor que me cativar

Roubo-lhe um pouco de néctar

E voo inda mais um pouco...

Minhas asas cansam

Uma criança me caça

“Que bela borboleta!”, exclama

E arranca minhas asas.

Morro, definho.


Minh ‘alma espalha-se pelos canteiros floridos

Viro então rosa

Enraízo-me.

Crio belas pétalas e aromas agradáveis

Seduzo o primeiro sonhador a passar

“Que bela rosa”, ouço-o exclamar

Mas não dessa vez.

Ele tenta me arrancar, mas meus espinhos cravam suas mãos ladras

Sangra.

Minhas pétalas sorriem... Ainda estou viva!


Os dias passam, e continuo enraizada.

Pousa-me uma borboleta

“Que bela borboleta!”, penso eu. Não me incomodo que pegue um pouco de meu néctar...

Não me dou por conta, e meus espinhos cravam sua asa direita

A asa é arrancada

A borboleta cai

Definhou; como eu.


Meu néctar jorra de minhas pétalas num choro florido

Que o que tem de bonito

Tem de doloroso.

Meu néctar, agora, não é capaz de reavivar a borboleta da asa arrancada

Apenas adoça-a...

Para tornar sua partida um pouco mais suave, quiçá.


Deixei todo meu néctar escorrer

Encontro-me amarga.

Nenhum sonhador quer me arrancar

Nenhuma borboleta quer do meu néctar provar.


Despedaço.

Não por algum apaixonado que usou minhas pétalas para cantarolar o bem-me-quer

Despedaço por mim mesma

Aos poucos

A luz vai indo embora, o som vai se abafando

Cada vez mais

E vai.


Viro então libélula

Não tenho asas bonitas nem espinhos

Sou livre, apenas.

Voo para longe

Pouso num lago

Vivo.


Até que vejo algo quadriculado

Uma rede?

Me pescaram novamente.

Enquadraram-me

E agora posso apenas viver por detrás do vidro

Sem voar

Sem espetar

Sem.


Eu vou morrendo aos poucos a cada olhar admirado que pousa sobre mim

Vou morrendo

Esvaecendo

Morro.


Então minh ‘alma liberta-se

Passa pelo vidro

Pelo ar

Por tudo, até por mim.

Meu corpo está a salvo

Minha figura está congelada

E minha alma libertou-se enfim.

Perambula, agora, por outros jardins

Não tenho mais forma específica

Sou tudo.


Sou flor que encanta e finca

Sou borboleta que voa e beija as flores procurando por pólen

Sou libélula livre que passa pela água num voo de esplendor

Sou o jardim inteiro que toca almas sem que elas se deem conta.


Enraízo-me, enfim, na vida.

Sem destino certo

No meu processo de floridez, finalmente encontro a forma utópica do nada

Apenas do sentir.


Depois de arrancarem-me as asas que aprendo a voar

Rego, então, as flores de dentro.

Finalmente;

Floresço.

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